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02/12/2019

Guincho: a gota d´água para a saída de Enivaldo da liderança do governo


Por Elvécio Andrade (*)

Deputado estadual Enivaldo dos Anjos
O episódio da eleição da Assembleia Legislativa do Espírito Santo está sendo visto como a oportunidade que o Palácio Anchieta esperava, e o utilizou de imediato, para tirar da liderança do Governo na Casa o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD). O pretexto, entretanto, não tem a menor sustentabilidade, ao contrário da situação do próprio Governo no Legislativo, articulada até então pelo parlamentar do Noroeste do Estado.

E por que não se sustenta? O PSB provocou uma grande discussão nacional recentemente, com seu movimento de suspensão dos deputados federais que votaram a favor da Reforma da Previdência, mas demonstra, no episódio do Espírito Santo, que está se tornando um partido de conveniência, como tantos outros dos quais a legenda tenta se diferenciar.

Vamos aos fatos? A mesma Previdência foi implementada e aprovada na Assembleia Legislativa do Espírito Santo pelo Governo do PSB num prazo recorde de nove dias, graças à capacidade do então líder Enivaldo dos Anjos de articular o plenário, mesmo sujeitando-se ao desgaste perante o servidor. Mas líder é líder.

Agora, o outro fato. A antecipação da reeleição do presidente Erick Musso em mais de um ano, que desagradou ao Governo socialista, foi fruto de uma Emenda Constitucional aprovada também com o voto favorável do, agora líder, deputado estadual Eustáquio Freitas (PSB), que, aliás, também compõe a Mesa Diretora eleita com 15 meses de antecedência para o biênio 2021-2023.

O Governo revelou-se insatisfeito com o comportamento do então líder Enivaldo dos Anjos, pois achou que era papel dele trabalhar contra a eleição antecipada. Mais uma vez o PSB adota a conveniência como comportamento padrão.

Ao contrário do que tenta fazer crer a coluna Painel, da Folha de São Paulo, a antecipação da eleição promovida pelo jovem presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo não é inédita no Brasil.


Pelo contrário, quem inaugurou a prática foi o próprio PSB do Estado de Goiás, onde o presidente do Legislativo, o deputado Lissauer Vieira (PSB), promoveu, no dia 29 de outubro, portanto quase um mês antes da Assembleia capixaba, a sua recondução à Presidência para o biênio 2021-2023. E foi por unanimidade dos 40 deputados, ao contrário do Espírito Santo, onde houve debate e discordância de cinco dos 30 deputados, com uma abstenção.

Lá em Goiás, o Governo entendeu o jogo democrático e a independência do Legislativo, comandado pelos socialistas, para deliberar sobre seus assuntos e trabalhou para emplacar o 1º secretário da Mesa, ao contrário do Espírito Santo, onde o Executivo preferiu resmungar e, ignorando que seu filiado entrou na contestada Mesa Diretora, o escolheu como líder no plenário e parece disposto a retaliar o quanto puder.

Portanto, não é justificável responsabilizar o deputado Enivaldo pelo que aconteceu no Legislativo capixaba, até porque o chefe da Casa Civil orientou Freitas (PSB) a entrar na chapa de Erick, sinalizando para os deputados que o governador já tinha absorvido a reeleição antecipada de Erick ao colocar Freitas na futura Mesa.

Nos bastidores políticos comenta-se que o Palácio Anchieta não estava gostando de um líder de opinião própria e queria um mais subserviente. Para respaldar-se, coleciona matérias em que o deputado Enivaldo posicionou-se independente, como na emenda do deputado Pazolini (sem partido) para liberar os carros de Uber com redução de ICMS.

Sem contar a posição do agora ex-líder na CPI da Sonegação e da tribuna da Casa contrário à Arcellor, à Vale, à BHP,  à Fundação Renova, com discursos duros, chamando as empresas de assassinas e criminosas e com isto dificultando o diálogo do governo com essas.

Ora, querer submeter Enivaldo dos Anjos politicamente é mesmo demonstrar desconhecimento de sua história e sua personalidade. Conheço o deputado há mais de 30 anos e sua trajetória é em linha reta, o que torna previsível pelo menos o seu comportamento em questões ética e de valores políticos. Não importa a posição nem o partido em que esteja, Enivaldo não é de se curvar a caprichos.

A gota d’água para Enivaldo deixar a liderança, anotem, ocorreu na última sexta-feira, 29, dois dias após a eleição antecipada da Mesa, quando o deputado Enivaldo dos Anjos, com a edição de quinta-feira do Diário Oficial nas mãos se revoltou contra um contrato de mais de R$ 3 milhões feito como emergencial, com uma empresa de capital social de R$ 130 mil. Objetivo: contratar guinchos para o Estado.

Como Enivaldo dos Anjos não aceita de forma nenhuma o uso de guincho terceirizado, porque, na visão dele, isso alimenta a máfia dos guinchos, o deputado fez um ofício ao diretor geral do Detran pedindo cópia de todo o processo para saber porque a empresa foi escolhida sem licitação, ao mesmo tempo em que oficiou à empresa convocando-a para depor na CPI da Máfia do Guincho.

Nos bastidores comenta-se que essa decisão de combater os guinchos foi o fato que faltava para tirar a liderança de Governo do deputado, que não aceitava orientação para não convocar as empresas e agora ainda levando à CPI membros do Governo que contrataram os guinchos. Essa independência do líder incomodava setores do Governo, o que levou à sua troca por Freitas.

(*) O autor é advogado e jornalista

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