Por Elvécio
Andrade (*)
Deputado estadual Enivaldo dos Anjos |
O episódio da eleição da Assembleia
Legislativa do Espírito Santo está sendo visto como a oportunidade que o
Palácio Anchieta esperava, e o utilizou de imediato, para tirar da liderança do
Governo na Casa o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD). O pretexto,
entretanto, não tem a menor sustentabilidade, ao contrário da situação do
próprio Governo no Legislativo, articulada até então pelo parlamentar do
Noroeste do Estado.
E por que não se sustenta? O PSB provocou uma
grande discussão nacional recentemente, com seu movimento de suspensão dos
deputados federais que votaram a favor da Reforma da Previdência, mas
demonstra, no episódio do Espírito Santo, que está se tornando um partido de
conveniência, como tantos outros dos quais a legenda tenta se diferenciar.
Vamos aos fatos? A mesma Previdência foi
implementada e aprovada na Assembleia Legislativa do Espírito Santo pelo
Governo do PSB num prazo recorde de nove dias, graças à capacidade do então
líder Enivaldo dos Anjos de articular o plenário, mesmo sujeitando-se ao
desgaste perante o servidor. Mas líder é líder.
Agora, o outro fato. A antecipação da
reeleição do presidente Erick Musso em mais de um ano, que desagradou ao
Governo socialista, foi fruto de uma Emenda Constitucional aprovada também com
o voto favorável do, agora líder, deputado estadual Eustáquio Freitas (PSB),
que, aliás, também compõe a Mesa Diretora eleita com 15 meses de antecedência
para o biênio 2021-2023.
O Governo revelou-se insatisfeito com o
comportamento do então líder Enivaldo dos Anjos, pois achou que era papel dele
trabalhar contra a eleição antecipada. Mais uma vez o PSB adota a conveniência
como comportamento padrão.
Ao contrário do que tenta fazer crer a coluna
Painel, da Folha de São Paulo, a antecipação da eleição promovida pelo jovem
presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo não é inédita no Brasil.
Pelo contrário, quem inaugurou a prática foi
o próprio PSB do Estado de Goiás, onde o presidente do Legislativo, o deputado
Lissauer Vieira (PSB), promoveu, no dia 29 de outubro, portanto quase um mês
antes da Assembleia capixaba, a sua recondução à Presidência para o biênio
2021-2023. E foi por unanimidade dos 40 deputados, ao contrário do Espírito
Santo, onde houve debate e discordância de cinco dos 30 deputados, com uma
abstenção.
Lá em Goiás, o Governo entendeu o jogo
democrático e a independência do Legislativo, comandado pelos socialistas, para
deliberar sobre seus assuntos e trabalhou para emplacar o 1º secretário da
Mesa, ao contrário do Espírito Santo, onde o Executivo preferiu resmungar e,
ignorando que seu filiado entrou na contestada Mesa Diretora, o escolheu como
líder no plenário e parece disposto a retaliar o quanto puder.
Portanto, não é justificável responsabilizar
o deputado Enivaldo pelo que aconteceu no Legislativo capixaba, até porque o
chefe da Casa Civil orientou Freitas (PSB) a entrar na chapa de Erick,
sinalizando para os deputados que o governador já tinha absorvido a reeleição
antecipada de Erick ao colocar Freitas na futura Mesa.
Nos bastidores políticos comenta-se que o
Palácio Anchieta não estava gostando de um líder de opinião própria e queria um
mais subserviente. Para respaldar-se, coleciona matérias em que o deputado
Enivaldo posicionou-se independente, como na emenda do deputado Pazolini (sem
partido) para liberar os carros de Uber com redução de ICMS.
Sem contar a posição do agora ex-líder na CPI
da Sonegação e da tribuna da Casa contrário à Arcellor, à Vale, à BHP, à Fundação Renova, com discursos duros,
chamando as empresas de assassinas e criminosas e com isto dificultando o
diálogo do governo com essas.
Ora, querer submeter Enivaldo dos Anjos
politicamente é mesmo demonstrar desconhecimento de sua história e sua
personalidade. Conheço o deputado há mais de 30 anos e sua trajetória é em
linha reta, o que torna previsível pelo menos o seu comportamento em questões
ética e de valores políticos. Não importa a posição nem o partido em que
esteja, Enivaldo não é de se curvar a caprichos.
A gota d’água para Enivaldo deixar a
liderança, anotem, ocorreu na última sexta-feira, 29, dois dias após a eleição
antecipada da Mesa, quando o deputado Enivaldo dos Anjos, com a edição de
quinta-feira do Diário Oficial nas mãos se revoltou contra um contrato de mais
de R$ 3 milhões feito como emergencial, com uma empresa de capital social de R$
130 mil. Objetivo: contratar guinchos para o Estado.
Como Enivaldo dos Anjos não aceita de forma
nenhuma o uso de guincho terceirizado, porque, na visão dele, isso alimenta a
máfia dos guinchos, o deputado fez um ofício ao diretor geral do Detran pedindo
cópia de todo o processo para saber porque a empresa foi escolhida sem
licitação, ao mesmo tempo em que oficiou à empresa convocando-a para depor na
CPI da Máfia do Guincho.
Nos bastidores comenta-se que essa decisão de
combater os guinchos foi o fato que faltava para tirar a liderança de Governo
do deputado, que não aceitava orientação para não convocar as empresas e agora
ainda levando à CPI membros do Governo que contrataram os guinchos. Essa
independência do líder incomodava setores do Governo, o que levou à sua troca
por Freitas.
(*)
O autor é advogado e jornalista
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